sábado, 7 de fevereiro de 2009

Lírios no Rio

Lírios no Rio


Lírios que a corrente vai levando,
venho fazer um pedido: Quando


vires sentada a sombra hospitaleira
de uma grande e florida caneleira

aquela que, numa ânsia de desejo,
me embriagou, um dia, com seu beijo,

diz pra ela que, de seu encanto sou escravo,
hoje a minha existência se resume
em aspirar as pétalas de um cravo

nas quais busco o sabor do seu perfume.

A estoria de Arawate - Homem Arvore

. O pajé Arawaté descende da Tribo Guanás, tribo que possui o inconversável idioma das pedras. Uma linguagem sutil, a que melhor abrange o silêncio das palavras. É uma língua adorável, mas leva muito tempo para se dizer alguma coisa com ela. Os Guanás não dizem nada com ela, a não ser que valha a pena gastar um longo tempo para dizer e para escutar. Apesar de ter um baixo volume para os ouvidos desatentos, a Língua Guanás continha um murmúrio, como se dentro de suas palavras corresse um rio entre pedras. Para os Guanás, a palavra nada mais é que um mero veículo para alcançarmos o reino mágico, onde a união entre o silêncio e o indizível que nos resgata da banalidade do cotidiano. O rumor das palavras é muito mais importante do que o sentido que elas tenham.
. Quando jovem Arawaté saiu de sua aldeia à procura de penas de Anapuru, uma ave mística e extremamente rara, mas indispensável para terminar seu cocar de poderosas virtudes mágicas. Mesmo dentre centenas de outras penas, uma única pena de Anapuru é capaz de transformar e potencializar o cocar, tal a sua eficácia. Levou consigo na sua busca apenas dois instrumentos mágicos: um abridor de amanhecer e uma fivela de prender silêncio.
Caminhou muito, teve que ir até a unha do dedão do pé do fim do mundo onde encontrou o Anapuru, a mais cara e rara de todas as aves. Enorme e formosa, tinha penas que exibiam quase todas as cores da floresta com grande perfeição e harmonia. Penas amarelas, vermelhas, azuis, pretas, verdes das mais variadas tonalidades salpicadas e espargidas por todo o corpo.
Para colher a pena foi fácil. Arawaté foi até o ninho e colheu muitas penas mágicas de diversas cores. Duas pretas e uma vermelha para o seu cocar de guerra, uma pena preta e duas amarelas para o seu cocar de sonhar... Uma das penas Arawaté separou especialmente para a confecção de uma flecha encantada. Ela sempre retorna às mãos, manchada de sangue do inimigo. Mas se atirada quando a vida do arqueiro não correr grande perigo, a flecha haverá de se voltar contra ele.
. Ele montou um cocar todo verde para celebrar a alegria de sua busca e, apesar de ser uma noite extremamente escura onde o bacurau feridava o silêncio e as estrelas repousavam como flores de luz no lago profundo do céu, Arawaté pegou seu caminho e feliz retornou para sua aldeia.
. Na verdade, a Noite desempenha um papel revelador. Somente no escuro se vê o que a luz do dia oculta. Exausto e com uma estranha sensação de sufocamento que tomou conta dele, como se o ar fosse muito escasso e rarefeito, e diante de um milenar Cedro, Arawaté parou para descansar.
. As árvores são ricas em um conhecimento próprio. Têm poderes de outorgar sonhos visionários ou proféticos. Algumas árvores dão acesso ao mundo do passado, árvores que guardam na alma secretamente inscritas todas as lembranças memoriais de Gaia. A árvore conjuga em si as potências da Terra, do ambiente, do céu. Apesar de cada árvore ter sua personalidade única e própria, elas têm uma característica comum: delas emana muito amor. A visão do mundo mágico da Natureza é um alimento para a alma e existem árvores que são verdadeiros centros destiladores de energia. A contemplação de uma árvore permite ao observador se transformar interiormente. Não há maior modificador de consciência que a observação das forças mágicas da Natureza. Os atos humanos aparentemente grandiosos e magníficos se revelam estarrecedoramente insignificante na perspectiva dos vegetais e da Eternidade.
. E o que falar sobre o Cedro de vasto tronco cinza e flores amarelas que já presenciou o alvorecer e o crepúsculo de mais de dez mil primaveras? Carregados de flores que funcionam como receptores de atividade celeste, bem intensa nesta noite sem Lua, os seres vegetais são capazes de perceber e reagir ao que acontece em seu ambiente a um nível de sofisticação que ultrapassa em muito a sensibilidade humana.
. Antes de dormir, Arawaté cobriu o corpo com um musgo que cobria as raízes daquela árvore anciã, a fim de se proteger dos mosquitos e muriçocas que infestavam a noite quente e úmida da mata. Ingenuamente, sem reconhecer esta antiga tradição ancestral das árvores, que cobrir o rosto e o corpo com o musgo das raízes é sinal de reconhecimento e amizade. O Cedro manifestou sua satisfação fazendo vibrar suas folhas, e suas flores se abriram como se uma primavera inteira florescesse num segundo, exalando mais ainda o seu aroma. Seu odor foi tão profundo que levou o espírito de Arawaté numa exaltação perturbadora. Uma curiosa sensação de bem-estar que penetrou Arawaté com sua carícia. É na Terra que dormem os oráculos. Das brumas surgiu Ê-vê, um senhor idoso vestido com alguma coisa semelhante a uma casca de árvore ou se aquilo era seu couro é difícil de dizer, e com um pássaro bravio no ombro. Quando Ê-vê apareceu, as árvores ergueram seus galhos, e todas as folhas estremeceram e farfalharam. Ê-vê murmurou com a sua voz profunda como um instrumento de sopro muito grave para Arawaté:
. -Em verdade a Terra é a Grande Deusa e a Grande Prostituta. Ela se entrega a todos, mas ninguém a possui jamais. Eu sou Ê-vê, o espírito das árvores, cavalgo o dragão que vive no fundo da Terra. Aqueço e alimento o fogo que faz brotar a vida do chão. Imperecível é o espírito da profundeza, como o seio profundo da maturidade. Céus e Terra radicam no seio da mãe, são a origem de todos os vivos, que espontaneamente brotam da Vida. Faço-me crer pobre e dura, cruel e distante, possessiva e voraz, mas os que se entregam a mim sem reservas, com todo amor, dou meu leite fluídico mesclado de raios lunares, estrelares e solares. Respira-me enquanto exalo meu fôlego, pois ele é habitado por forças de um poder inimaginável. Concedo inspiração, conhecimentos e oráculos, pois na seiva das árvores circula impregnada com as vibrações dos planetas e das estrelas. Em seu tronco está escrito o devir celeste. As árvores são antenas de Gaia e as flores os seus olhos. As árvores tudo realizam e nada consideram seu. Tudo fazem e não se apegam a sua obra. Não se prendem aos frutos de sua atividade. Terminam as suas obras e estão sempre no princípio e por isto suas obras prosperam.
. A sensação que Arawaté teve ao ver os olhos de Ê-vê era como se houvesse um oceano atrás deles, cheios de eras de memórias e de um pensamento constante, longo e lento como as ondas; mas, na superfície, faiscava o Presente como o sol tremeluzindo na face de um lago prateado, ou nas folhas externas de uma imensa árvore. Ê-vê era um Deus que não exigia adoração e não punia ninguém; ele apenas propunha e lembrava que existir é uma graça infinita, e que a Morte, longe de ser temida, é a continuação natural da felicidade de viver.
. - Posso ver e ouvir, cheirar e sentir muita coisa ainda. Onde eu fico, olho ao redor, nas manhãs agradáveis, e penso no sol, e no Campo Cheiroso além da floresta, e nos gaviões e nas nuvens, e no desabrochar do mundo. O que está acontecendo? O homem branco – prosseguiu Ê-vê – já não me honra mais. Quantas árvores derrubadas e queimadas pela estupidez humana. Algumas eles apenas cortam e deixam apodrecer. Ele me corrompe, me corrói, me saqueia e me abandona. O homem se tornou meu parasita. Há restos de tocos e queimadas onde já existiram bosques cantantes. Com ele já não posso me comunicar como faço com você, Arawaté. A sabedoria milenar dos vegetais está situada no infinito de nós mesmos.
. Dito isso e antes de se esvaecer por completo deixando Arawaté completamente embriagado por suas palavras, Ê-vê lhe serviu o néctar da imortalidade, uma bebida que manterá Arawaté verde e crescendo por um longo, longo tempo, oferecendo preciosidades e toda espécie de ilusões e revelações. Depois Ê-vê transmitiu os caminhos para Arawaté resgatar este conhecimento; e, a partir desse momento, surgiram às sessões xamânicas que nos acompanham desde então, nos auxiliando no resgate dessa sabedoria milenar dos vegetais.
. A partir deste dia, a vida de Arawaté se transformou inteiramente. Sua cama era coberta por uma grossa camada de grama seca e samambaias. Era macia e quente e tinha um aroma delicado. Ele viveu por muito, mas muito tempo mesmo, comendo plantas e ervas-daninhas da floresta, e só comia as frutas que as árvores deixavam cair em seu caminho. Passava os dias meditando e fazendo amizade com todos os animais, aves e peixes do rio. Os menos interessados em si próprios são os melhores para interagir com os outros seres. Tinha como habilidade menor saber ler as estrelas.
. Certa feita um passarinho pediu para Arawaté ser a sua árvore. Arawaté aceitou feliz e honrado seu dever de árvore. Nestes dias Arawaté aprendeu de Sol, de Céu e de Lua mais do que em qualquer escola. Aprendeu com a Natureza o perfume de Deus. Arawaté se envaidecia quando era a árvore escolhida para o entardecer dos pássaros. Sob o efeito dos fascínios dos gorjeios dos pássaros, as árvores deliram. As árvores sabem que quando o pássaro está enamorado ele gorjeia. No gorjeio do pássaro inclui a sedução. As flores dessas árvores nascerão mais perfumadas. Estas árvores são provedoras de poesia como as aves e os ipês floridos na floresta. Arawaté agradeceu aos pássaros aquele “estar” árvore porque ele fez amizade com muitas borboletas.
. Um dia, enquanto Arawaté estava completamente absorvido pelo orvalho da manhã, um caçador o confundiu com uma caça e o surpreendeu flechando o seu braço. Com o olhar arregalado de espanto e deleite, Arawaté viu que, ao invés de correr sangue do seu braço, jorrava seiva. Embora não percebesse, quando ele dançava, sua dança contagiava a todos com sua energia e vigor e todos dançavam com Arawaté: os ventos, as nuvens, as ondas. Nada nem ninguém conseguia resistir a sua dança. Todos os animais e plantas, e até mesmo as folhas caídas no chão, embarcavam no seu ritmo. Arawaté sabia o nome de todos os ventos e conhecia todos os assobios de chamar passarinhos. A maioria das vezes ele era maleável e delicado como as folhas e flores, porém também sabia ser duro como as velhas raízes, quando o perturbavam. Ele nos legou este conhecimento da sabedoria ancestral do vegetal. Antes de Arawaté, as árvores estavam adormecidas, só sussurravam entre si. Arawaté começou tudo, despertando as árvores e ensinando-as a falar Guanês e aprendendo sua fala-de-árvore, compuseram várias músicas em conjunto, Arawaté e as árvores, numa longa cadeia dourada contínua de sons musicais.
. - Nada existe no mundo mais belo que a flor, nem mais essencial que uma planta – dizia sempre Arawaté – sei o nome original que recebeu cada planta quando a casca da Terra se abriu, oferecendo-se ao Céu. Tenho o calor delas todas correndo no meu sangue. A verdadeira matriz da vida humana é a vegetação que cobre a Terra. Do berço à sepultura, recorremos aos vegetais para comer, vestir, morar, ter energia, fibras, cordas, instrumentos musicais... As flores nos acompanham do nascimento ao casamento e até depois da morte. Percebi que as árvores são mais competentes em aurora do que os homens. Quem vaga pode conhecer caminhos, mas quem observa as estrelas pode vir a conhecer as direções, e digo ainda: é mais feliz quem descobre o que não presta do que quem descobre ouro. O homem realizado não tem desejos de dentro, nem exigências de fora. É prestativo em se dar e sincero em falar, suave no conduzir e poderoso no agir. Age com serenidade por isso é incontaminável. Devo agora viver sozinho na floresta. Assim, nem a alegria, nem a tristeza permanecerão em mim, nem o medo ousará ficar em minha presença. As árvores morrem eretas.
. Arawaté visitava o futuro das palavras, conhece instantaneamente o passado e o futuro de toda a árvore que vê, contava histórias de abelhas e flores, do jeito de ser das árvores e das estranhas criaturas da floresta. Freqüentemente sua voz se transformava numa canção, e as sementes se multiplicavam em suas mãos; dizia que era muito fácil receber o ensinamento das árvores. Era só contemplar o Universo com alma de criança. As crianças podem comandar os Deuses. Somente uma criança que vive dentro de nós é quem tem a chave que nos permitirá abrir a caverna onde dormem os tesouros de nossa alma. Cada espaço, cada lugar, cada árvore, pedra ou elemento possui sua caverna secreta, plena de conhecimentos. Basta se pôr em harmonia com eles e passar a ver. O mais árduo é acreditar que isto seja possível, isso é o mais difícil.
. A Natureza é o berço da alma e é só com o convívio com Ela, reflexo da imaginação divina, é que alguém pode se transformar interior e exteriormente. O Ego é o pior inimigo do Eu, mas o Eu é o melhor amigo do Ego. É ao sopro do Vento, ao correr das Chuvas, a mordência do Sol, ao mistério das Noites, ao sabor da Lua que se passa a queimar os venenos dos quais o Ego é o principal recipiente e esconderijo. O Ego é um péssimo senhor, mas é um ótimo servidor.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Arawate a busca


E esse?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Um Poema Chines


EXORTAÇAO

Para não viver em vão
e sim num suave delírio,


se tiveres mais de um pão


vende um e compra um lírio.

Sanuma en espanol

Y como yo habia prometido, Sanuma en castellano!
Aprecien muchachos y muchachas!
Aloha!
Leo Jara

Sanumá, La Flor del Sueño

En un reino donde las abejas uruçús amarillas cargadas de néctar reposaban sobre las flores en todas partes, nadie jamás vio una flor tan linda y perfumada como Sanumá, también conocida como Flor del Sueño. Era bella y bondadosa como un árbol gigante que abre su capa de hojas delicadas y ofrece su sombra y frutos adulzados a todos. Era una india cuya belleza hacía que las otras mujeres pareciesen vulgares, avergonzando la vanidad de todas.
A pesar de sus encantos, Sanumá nunca encontró un hombre que le interesara interesase, porque eran todos desgarbados, frívolos y vanidosos, hinchados de orgullo y rígidos en su presunción. Un día, cansada de su soledad, Sanumá dijo a su padre, cacique de la inmensa nación Ianomâni:
- Gran maestro y padre Ianoama, sé que le debo obediencia , pero deseo ir al encuentro de mi destino. Partiré y no retornaré hasta encontrar a mi compañero.
El padre no se opuso. Sabia que en los extensos limites de su territorio y que a la vez las tribus vecinas vivían un prolongado período de paz y confraternización entre ellas. Sin poner obstáculos, Ianoama permitió la partida de su hija. Seleccionó la comitiva que la acompañaría: un rastreador, que conoce todos los caminos del bosque, un cazador, que se preocuparía de la alimentación, un soñador, que tiene la habilidad de comunicarse en todas las lenguas humanas, animales y vegetales además de enviar mensajes a través de los sueños, y el chamán Shipaya, un pajé de renombre por toda la selva amazónica.
Imbuida de su deseo , Sanumá recorrió las más variadas tribus y tabas en busca de alguien que saciase su sed de amor. Se decidió a explorar más allá de los límites de su reino y se adentró en las montañas llenas de vegetación más densa que se conoce. Entró en la floresta milenaria donde las raíces son profundas y cada árbol se curva sobre el peso de sus flores y oscila delicadamente en la atmósfera de los Dioses.
Allí encontró la tribu Bará, que se retiró al profundo de la floresta después de que el cacique Kinã perdiera la visión y pasara a guiar su tribu por el olfato. Fue en ese momento cuando conoció a Ninam, guerrero y cazador, hijo de Kinã. Ambos se miraran a los ojos y desearon permanecer así eternamente. Sanumá percibió inmediatamente en los ojos de Ninam que su búsqueda había terminado.
Una semana juntos fue más que suficiente para que Sanumá tuviera la más absoluta convicción de que Ninam era la respuesta a todas sus preguntas, el destino de todos sus caminos. En cuanto a Ninam, reconoció en Sanumá el camino que lleva al paraíso y que es usado solamente por los Dioses. No había fuerza alguna en la faz de la Tierra que los separara.
Sanumá retornó para comunicar a su padre su decisión de tener a Ninam como compañero y de su disposición de vivir en el corazón de la floresta. Ianoama al principio se desesperó solo al pensar en separar-se de su única hija, pero se quedó callado porque sabía que el coraje que es alimentado por el amor es imbatible. Fue a buscar Shipaya, chamán que había acompañado a Sanumá en su búsqueda y le pidió información sobre Ninam.
- Ianoama – dijo Shipaya – Él nació en el profundo de la floresta, y es en donde vive desde entonces. Su padre se llama Kinã, cacique de la tribu Bará. Él es bondadoso y leal. Bello como la Luna, posee la energía y el vigor del Sol. Es generoso como Gaia y tiene el coraje de un jaguar con crías, aunque también es paciente como el Tiempo. Él posee solamente un defecto y ningún otro: Ninam morirá dentro de exactamente un año.
El cacique se encontró con su hija le reveló las palabras de Shipaya y le sugirió que cambiase de idea.
- No te cases para su infelicidad, hija.
Sanumá contestó:
- No escogeré dos veces. Sea su vida corta o larga, en mi corazón ya tomé a Ninam como compañero.
Ante la determinación de la hija, Ianoama se calló. Debido al poco tiempo que restaba de vida a su futuro yerno, apuró los preparativos de la partida. Fue planeada para la mañana siguiente. Acompañaría a su hija de retorno al corazón de la floresta a fin de participar en la fiesta del enlace de la pareja. El cacique Kinã fue el primero en percibir el retorno de Sanumá. Su voz alegre y clara como el canto de un pájaro al amanecer llegó con el viento hasta los sensibles oídos de Kinã, que se quedó preocupado: ¿Cómo una chica tan dulce podrá vivir en una floresta tan densa?
- Ninam, hijo mio, escucha a tu viejo padre. ¿Cómo soportará ella vivir en la floresta?
- Mi sabio padre, tanto ella como yo sabemos que la alegría y el llanto siguen su curso dondequiera que estemos. Comprendeme, padre. No destruya mis esperanzas.
El ímpetu de las pasiones perturba los pensamientos y solamente el Tiempo consigue desatar los nudos del corazón. El amor es más difícil de domar que a un picaflor. Tanto Kinã como Ianoama lo sabían y sin demora realizaron la ceremonia de unión de sus hijos. Cuando el mejor se une a la mejor no puede dejar de haber felicidad. Repletos de amor cada día la alegría siempre se hacia presente. El año restante de vida de Ninam transcurrió tan rápido como el caer de una estrella. ¿ Que sabe sobre el paso del Tiempo una victima del amor?
Sanumá mantenía su secreto. Solo le restaba contar los días, que se escurrían como arena entre los dedos, hasta que solo faltó el postrero. En la víspera de la llegada de la Muerte, Sanumá no conseguió dormir, pasó la noche acurrucada, observando a su marido, hasta la madrugada.
Por la mañana le preparo el desayuno. Pan frutado, miel de jataí, frutos de massaranduba, una graviola bien madura, jugo de mastruz, ciruelas rosas y dulces como la brisa de las mañanas, semillas de girasol tostadas al sol y castañas de cajú asadas en la leña de Ipe. Sanumá no conseguía comer nada, sus pensamientos continuaban encerrados en aquella sala donde habia un letrero en la puerta: “ Hoy es el día”.
Cuando el sol estaba a un palmo de altura, Ninam decidió salir a cazar. La insistencia de Sanumá en acompañarlo lo hizo cambiar de planes. En vez de ir a cazar, Ninam decidió ir a pescar algunos peces en la cascada con ella. Los caminos estrechos y densos por entre los morros estaban descubiertos a los ojos a través del suave brillo del sol que conseguía penetrar en la floresta. Después de atravesar dos enormes morros, ven que aparece ella, la cascada de Jeribucaçú, un río mágico, eslabón del amor de dos océanos… Jeribucaçú y su cascada, un salto de agua mayor de que cualquier árbol milenario, con sus aguas calientes y ruidosas de color dorada era un ostensivo invite al buceo.
Saltaron, nadaron, bromearon. Nunca la Eternidad se detuvo tanto tiempo como en aquel momento. Ah, la Eternidad…Ella tiene sus raíces fuera del alcance de los hombres. Yama también acompañaba a la pareja en su alegría. Una alegría que podría hacer brotar orquídeas en el desierto. Ajena a todos estos espectadores y llena de dulzura, Sanumá observaba todas las vibraciones del espíritu de Ninam.
Cuando salieron del agua, Ninam sintió escalofríos. Secó su cuerpo con algodón extraído de un pié de Marcela y sintió que la cabeza le palpitaba. Se acostó en el regazo de Sanumá. La luz lo perturbaba y hacía que le ardieran los ojos. Al darse cuenta, Sanumá hizo sombra con su rostro. En la sombra, Ninam tuvo su última visión: el intenso brillo de los ojos de Sanumá. Al cerrar los ojos, su rostro se retorció y se empalideció por un momento. El color volvió a su tez. Con la cabeza apoyada en el seno de Sanumá, Ninam se durmió serenamente. Sanumá con la voz triste susurró homenajes de amor y agonía al indio que le robó el alma y la calma .
Del interior de la floresta, un hombre alto y fuerte observaba a Sanumá con sus ojos oscuros. Sanumá percibió su uña brillante como los reflejos de sol en el lago y una pintura resplandeciente como el brillo de las perlas cubrían su cuerpo. Yama salió de la floresta como la Luna saliendo del mar: majestuoso y todo vestido de blanco. Tenía para Ninam una mirada de paciencia y bondad, y esto tranquilizó Sanumá.
- Mucho se vive, poco se ve – dice Yama – Eterno plantador de flores y espinos en nuestro camino, el Dios del Amor. Con sus flechas con puntas en flor posee el más poderoso arco del mundo. Aunque sea hecho de cana de azúcar y su cuerda no sea más gruesa que el hilo de una telaraña, el veneno de estas flechas carga el mágico encantamiento del amor.
Las palabras de Yama sorprendieron y encantaron a Sanumá por su suavidad. Sin miedo, Sanumá declaró su sorpresa:
- ¡Siempre creí que usted era una mujer!
- ¡No hermanita! Las mujeres traen la Vida porque tienen más
sabiduría para transmitir a los curumins. Los hombres interumpen la Vida. Debemos relevar algunas actitudes masculinas debido a esta violencia ancestral hereditaria, muchas veces reprimidas en saludables torneos, necesarias cazadas, y en innombrables guerras. De los hombres brota la Muerte, mientras en las mujeres florece la Vida.
- Señor Muerte, yo soy Sanumá.
Yama sonrió y respondió con blandura:
- Yo los conozco a los dos, Flor del Sueño, desde hace mucho tiempo. Las otras vidas yo las recuerdo, usted no; pero ahora esta lanzada la flecha de mi tutela. Los días de Ninam están completos y yo vengo a buscarlo.
Yama colocó la mano en el pecho de Ninam en la altura del corazón y arrancó su alma, un ente no mayor que su dedo, que Yama amarró en su lazo. Cuando el alma de Ninam fue guardada, su cuerpo no respiró más. Yama se retiró para la floresta, pero Sanumá lo siguió, caminando a su lado. El paró y le dijo:
- Vuelve, Flor del Sueño, y prepara el funeral.
- Oí decir que fue el primer hombre en morir que encontró el camino de la morada que no puede ser más habitada.
- Es verdad – dice Yama -, pero ahora vuelve, Flor del Sueño. No puedes seguirme más. Estas libre de cualquier compromiso o eslabón con Ninam.
- Todos los que nacen deben un día seguirlo, señor. Permítame acompañarle solamente un poco más, como su amiga.
Yama paró y, volviendo lentamente, miró a Sanumá. De su cuerpo exhalaba un olor de una orquídea al rocío de la primavera. Recordó el casamiento infinitamente feliz había visto apenas algunas horas atrás en la cascada.
- Tienes razón, Flor del Sueño, no tienes miedo de mí. Acepto tu amistad, acepta en cambio una dádiva mía. Pero no puedo devolver la vida de Ninam
- La amistad solamente se puede consumar después de dar juntos once pasos – dice Sanumá – Que la ceguera de Kinã lo abandone.
- Ya lo abandonó. Ahora vuelva, pues estás cansada.
- Ni un poco. Estoy con Ninam por última vez. Dame permiso para caminar con usted un poco más.
- Yo te doy. Yo siempre quito, mas es bueno poder dar. No es difícil dar. Cuando la vida llega al final y todo precisa ser entregado, se comprende que dar no es difícil.
Caminaron rumbo al Norte, llegaron al borde de un río. Yama dio de beber a Sanumá de su propia mano. Ofreció a Sanumá visiones de otras vidas suyas. Pasadas o venideras, era solamente cuestión elegir. Gentilmente Sanumá recusó el regalo.
- Durante la vida, Sanumá, existe el dolor, pero no después de la muerte. Lo que es muy difícil es encontrar alguien digno de recibir. Yo ya miré a todos. Y, sin embargo esta agua no es más límpida que tu corazón. Tú luchas por lo que deseas, tú decides y eliges tu camino. No te rindas. No desees ser ninguna otra persona. Hace mucho que no veo esta actitud. Puedes hacer un pedido Sanumá, todo menos la vida de Ninam.
- Que mi padre Ianoama viva tanto como un Jatobá y tenga una centenar de hijos.
- Él los tendrá – aseguró Yama – pero pídeme algo más, algo para tí misma. Todo menos la vida de Ninam.
Sanumá respondió:
- ¡Qué yo tenga también cien hijos de mi marido!
Yama se paró delante de una Ibirapitanga milenaria y se quedó contemplándola. Sanumá no sabía decir que fue lo que le impresionó . Si sus palabras o el gigantesco árbol de grueso tronco colorado.
- Flor del Sueño, tú me respondiste sin pensar. ¿Cómo has de tener hijos con Ninam si él esta muerto? ¿no has pensado en esto?
- No.
- Sé que no. Pero no hay más vida en él. Está todo acabado.
- Por eso mismo, señor, no he pedido nada para mí. Yo que estoy mitad muerta y no anhelo siquiera el cielo.
Yama suspiró…
- Los favores nunca piden para un hombre verdadero. Soy absolutamente imparcial para todos los hombres. Yo, más que nadie, sé lo que son la verdad y la justicia. Sé que todo el pasado y todo el futuro se mantienen unidos por la verdad. ¿Cuanto vale tu vida sin Ninam?
- Nada señor.
- ¿Me entregarías mitad de sus días en la Tierra?
- Si, ellos son suyos.
Nuevamente Yama dirigió una mirada profunda a Sanumá. Ella sintió el peso de la mirada sobre su cuerpo. Por fin Yama dijo:
- ¡Está hecho! Pues más fuerte que la muerte es el amor, y más largo que la vida es la salud de la persona querida. Tomé sus días y entregué a su marido como si fuesen de él. ¿Quieres que te diga el número de esos días?
-No. Nadie mejor que yo que conoce la angustia de mirar el Tiempo correr desesperadamente en su dirección.
- El alma de Ninam descansa contigo, Flor del Sueño. Tendrás que llevarla de vuelta tú misma. Pero, antes de partir, hazme un poco de compañía y yo te mostraré el manejo de las armas mortales de los Dioses.
Sanumá aprendió muchos mantras y encantamientos. Mantras que podrían sacar un alma dentro de un cuerpo y ponerlo afuera con solo pulsar la palma de la mano. Yama reveló su verdadero nombre a Sanumá, pero advirtió que ella nunca podría pronunciarlo indiscriminadamente, porque podría traer una destrucción inimaginable. Si él fuera revelado, toda la virtud y todo el poder de las palabras desaparecerán instantáneamente y para siempre. Después Sanumá reveló todo este conocimiento a Shipaya y él se encargó de incorporar estos conocimientos en la sabiduría milenaria secreta de los chamanes.
Yama se despidió de Sanumá y prosiguió solo, hacia el Reino de los Muertos, con un cordón que nada contenía. Ya era oscuro cuando Sanumá volvió a una selva densa y siniestra, donde las hojas murmuraban ferozmente al viento de la noche. El cadáver de Ninam permanecía gélido a la luz de las estrellas. Ella colocó la cabeza de su marido en su regazo y sintió la piel calentarse al contacto con su delicado cuerpo. Ninam abrió los ojos y miró a Sanumá con la felicidad que contiene una mirada después de matar una larga saudade.
- Pasé el día durmiendo, mi Flor. Tuve un sueño extraño y en él yo estaba siendo llevado…
- Eso ya pasó – dice Sanumá.
- ¿No fue un sueño?
- Ninam yo puedo deshacerme de mi misma, pero jamás de ti. Es tarde, debemos volver. Hablaremos cuando lleguemos a casa.
Yama había vuelto. Oculto en la floresta quería solamente mirar el reencuentro de la pareja. Luego dirigió su mirada a la oscura densidad de la floresta y dijo:
- ¿Por qué me miras tanto, Eternidad? ¿Crees que perdí el tino con la vejez? Este casal transmitió a todos el verdadero éxtasis de vivir. Intentar contener este amor ha sido lo mismo que exprimir un torbellino en los brazos. ¿Por qué siempre hay indecisiones y dudas en las cosas del Amor?
De la oscuridad salió la Eternidad involucrada con su disfraz casi impenetrable. Caminó junto con Yama. Descendieron y se sentaron en la aplacible orilla del río. Son los rayos de luna los que existe a la noche que devele los verdaderos colores de todo lo que existe. La Eternidad sonrió viendo como el río fluía en su frente. Una sonrisa placentera que hizo brillar su rostro.
- El hombre no representa su papel en la Tierra por lo que hace y dice, sino por lo que es. El verdadero guerrero es consciente de su armonía con el camino. Por un intenso SER es realizado el más extenso HACER. Sin esa esencia, sin esta luz, puede el hombre mirar todas las cosas externas y no comprender nada, así como un analfabeto puede hojear los mayores libros de la humanidad sin entender nada.
- No necesita justificarse Yama. Si hubiese alguna causa para el Amor, él es mi viejo amigo de otra vida y se irá conmigo después cualquier pequeño atrito. Pajarita que se inclina ya tiene el vuelo pronto. Esclarézcame una cosa Yama: ¿Qué es esta vida loca que corre por los cuerpos humanos como fuego?
- La vida es como un hierro caliente, fundido; presto a ser derramado. Elija el molde y la Vida lo abrasará. Los actos externos no tienen valor por si mismos, pero sí por la actitud interna. Para ser benefactor de la humanidad, solamente es preciso ser bueno.
Yama limpió el polvo con el viento, se sentó sobre un puñado de hojas largas de hierba y aprovechó para preguntar a la Eternidad:
- Y usted, que desprecia el Tiempo; ¿ no se cansó de existir?
- El Tiempo es un océano sin fin; ¿dónde hallar una isla? La vida pasa y es inestable. A veces, Yama, oigo el viento pasar y solamente por oír pasar el viento, pienso que vale la pena existir. Tengo el egoísmo natural de las flores, preocupadas solamente por florecer.
-Eternidad, usted que es mucho más experta que yo, y que se quedará aqui después de mi partida, aclárame de una duda: ¿Conoce alguien el Futuro?
- Nada sé sobre el Futuro, Yama. Como usted, tengo paciencia y espero que Él venga a mi encuentro. Tengo como compañero el Presente, momento único en que la gente puede crear y recrear nuestro camino a nuestra imagen y semejanza, vestirse con todos los colores, saborear todos los sabores y entregarse a todos los amores sin prejuicios, ni vergüenza. Esa tiempo tan fugaz en la vida de la gente es único, se llama Presente y tiene la duración del instante que pasa. La vida reside en el instante. No pierda un solo instante, haga rápido lo que desea, pues la alegría es efímera como el rocío en verano.
Y no dijo nada más. El murmullo de la suave melodía del riachuelo quedó sustenido sobre el profundo silencio, y todo se quedó oscuro como la media noche; quieto y tranquilo como cuando un Dios duerme.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Salada de Fruta

Salada de Fruta
Gostaria de trazer na boca
O visgo da jaca
Para prender e apreender
eternamente
em meus labios
a doçura do abiu
que teu beijo carrega.
.

Sobre os desenhos

Na verdade so sao dois: Um da Dreamworks e outro da estoria de Sanuma, o casal de indios no Rio Jeribucaçu. O casal de indios foi criado por Monica Reis. Estou com muita dificuldade de postar mais desenhos, mas os amigos estao livres ( e convidados ) para enviarem desenhos para as estorias e/ou personagens.
Dedos no pincel!
Aloha!
Leo