O Caçador e a Morte
Enquanto todos estão entretidos na suave harmonia produzida pelo som e silêncio e regida pela orquestra ruidosa da floresta, o caçador, envolvido pelo silêncio, observa os rastros que o conduzirão à caça. Um bom caçador sabe de uma coisa acima de todas as outras: conhece a rotina de sua presa. A capivara sai de sua toca e vai ao rio beber água toda a noite pelo mesmo caminho. Comete os mesmos atos, surda e cega perante as inúmeras possibilidades que o Presente oferece.
As capivaras trocam de pêlos, mas não alteram a sua rotina. Essas pegadas não passam desapercebidas ao caçador, que transforma sua presença numa incógnita. A rotina delata os vestígios da presa ao caçador. A capivara se torna refém dos obstáculos e armadilhas criadas por ela própria.
O caçador sabe que a rotina o transformará em caça e isso ele não deseja. A vida de um caçador é um exercício de estratégia. Observa a fraqueza da presa para fortificar os seus atos. Não deixa a rotina agarrá-lo, ele é senhor absoluto de si em todas as suas ações. Lua após Lua. O caçador pratica cada ação como se fosse a única coisa que realmente importasse no mundo, e não deixa de ter razão. Um verdadeiro caçador não apanha a caça porque prepara as armadilhas. Captura-as porque ele é fluido, livre e imprevisível, diferente dos animais que persegue, presos por rotinas pesadas e esquisitices fixas.
Atento e observador, descobre que o mundo é um intrigante e completo mistério. Desiste então de desvendá-lo, ficando livre para explorar e viver o instante. Rastros apagados, somente o momento revela a direção de seus passos.
O caçador é o mensageiro de Yama. Conhece seus caprichos, e sabe que Ela é a única entre os Deuses que não aceita presentes. Não há como ir contra os desejos desta senhora tão velha quanto a Vida. Não existe na floresta inteira uma árvore que o cerne do seu tronco não se desmanche como pólen ante seu abraço. O caçador sabe que os mortos não mordem, mas não luta contra Ela, compreende que seu momento de abraçá-la independe dele. Nascemos de um só modo, de muitos morremos, apesar de uma só noite nos esperar a todos.
A total incerteza sobre a hora de sua morte prende o caçador ao Presente. Ele não tem tempo para se agarrar em nada. Família, trabalho ou rotina..., Essa convicção da presença muda de Yama ao seu lado tempera o sabor do momento vivido pelo caçador. Ele saboreia tudo e todas as emoções que o instante lhe oferece. É a certeza da morte que sustenta o poder de decisão de um caçador. Quando nos consideramos imortais, achamos que nossos erros podem ser desfeitos depois. Mas num mundo onde Yama é uma caçadora que está sempre por perto, não há tempo para remorsos ou dúvidas para o caçador. Só há tempo para decisões. Ele sabe que somente o seu julgamento correto mantém vivo nesta absurda realidade, evitando assim que a morte o dissolva. O caçador tem que ser poderoso de saída para poder suportar os rigores desta vida. Longe de ser uma vítima ou considerar Yama sua inimiga, o caçador reconhece que, enquanto ela não desejar beijá-lo, todo o homem é imortal.
A Vontade e a Paciência são duas qualidades imprescindíveis para a construção de um caçador. Somente a Vontade move o processo inicial do conhecimento. Ela é nosso elo de ligação com o mundo. A Vontade é a ferramenta que o caçador utiliza para reverter quadros desfavoráveis. Mesmo que a situação esteja sinistra e todos estiverem dizendo NÃO, o caçador imbuído de Vontade prende até vento em sua rede. Quando um homem resolve fazer alguma coisa, tem que ir até o fim. Tem que assumir a responsabilidade daquilo que faz, e depois prosseguir com seus atos sem vacilação ou arrependimentos. Uma onça pode chegar ao lado de um caçador e cheirar o seu rosto, mas, se ele permanecer imóvel e inabalável, a onça vai embora.
Pior do que a fome é a audácia da barriga cheia. A ignorância produz atrevimento. A Paciência carrega a reflexão, local onde brota a sabedoria, dádiva que o Tempo concede aos mortais. A reflexão constrói artimanhas e armadilhas. A Paciência permite ao caçador observar a caça e alertar o corpo para o momento exato de executar o bote. A Paciência nos demonstra como levar uma vida de um modo mais estratégico, porque somente ela reflete uma ampla visão da situação.
Um caçador deixa muito pouca coisa ao acaso, ele tem que gastar tempo observando onde sua presa se alimenta e faz seu ninho, para saber onde localizar sua armadilha. Ele confia na sua estratégia, sabe que atrairá a caça várias vezes na sua armadilha de modo que não se preocupa. A Paciência logo nos dá clareza para perceber que o universo não tem preferências e que todas as coisas são iguais e sendo iguais nenhuma é melhor ou pior do que a outra, assim todas as coisas são sem importância. Quão estranho e lógico são as leis que regem o universo, ele não se explica só complica, então, quanto mais falamos do Universo, menos o compreendemos. Melhor deixar nossa pretensão de lado, deixar de tentar entendê-lo e percebê-lo em silêncio. Um caçador sabe de muita coisa. È uma pessoa que vê o mundo de diversas maneiras. É preciso estar em perfeito equilíbrio com o ambiente que o cerca, porque senão a caçada se torna uma tarefa sem sentido.
Só sobreviveremos num mundo onde só existam caça e caçador, se assumirmos a postura de um caçador. O destino da caça é morrer enforcada pela sua rotina. A arte do caçador é ser inabalável e leve. Ser leve significa que ele toca moderadamente o mundo que o cerca. Usa o seu mundo com respeito e ternura. Não está faminto, nem desesperado, que pensa que nunca mais vai comer na vida e então chupa todos os frutos da árvore. O caçador chupa alguns cajus, não a árvore inteira, toca o mundo de leve, fica o tempo que precisa e depois passa adiante rapidamente, quase sem deixar marcas. O caçador é livre para fazer da ocasião a alma de todas as suas ações. Solto de posses e programações prévias, ele circula leve como a brisa sobre as amarras do cotidiano que deixam a caça imobilizada no Presente e com o Futuro marcado.
Enquanto a caça se mantiver resignada, escolhendo sempre o mesmo caminho para beber água e o caçador tiver a alma aberta para conhecer novos atalhos aprendidos com a reflexão que brota da Paciência e com seus atos embriagados de Vontade; nascerão e morrerão constelações de estrelas, gerações de Eternidades passarão e a luta, entre caça e caçador, permanecerá incessantemente desigual.
Enquanto todos estão entretidos na suave harmonia produzida pelo som e silêncio e regida pela orquestra ruidosa da floresta, o caçador, envolvido pelo silêncio, observa os rastros que o conduzirão à caça. Um bom caçador sabe de uma coisa acima de todas as outras: conhece a rotina de sua presa. A capivara sai de sua toca e vai ao rio beber água toda a noite pelo mesmo caminho. Comete os mesmos atos, surda e cega perante as inúmeras possibilidades que o Presente oferece.
As capivaras trocam de pêlos, mas não alteram a sua rotina. Essas pegadas não passam desapercebidas ao caçador, que transforma sua presença numa incógnita. A rotina delata os vestígios da presa ao caçador. A capivara se torna refém dos obstáculos e armadilhas criadas por ela própria.
O caçador sabe que a rotina o transformará em caça e isso ele não deseja. A vida de um caçador é um exercício de estratégia. Observa a fraqueza da presa para fortificar os seus atos. Não deixa a rotina agarrá-lo, ele é senhor absoluto de si em todas as suas ações. Lua após Lua. O caçador pratica cada ação como se fosse a única coisa que realmente importasse no mundo, e não deixa de ter razão. Um verdadeiro caçador não apanha a caça porque prepara as armadilhas. Captura-as porque ele é fluido, livre e imprevisível, diferente dos animais que persegue, presos por rotinas pesadas e esquisitices fixas.
Atento e observador, descobre que o mundo é um intrigante e completo mistério. Desiste então de desvendá-lo, ficando livre para explorar e viver o instante. Rastros apagados, somente o momento revela a direção de seus passos.
O caçador é o mensageiro de Yama. Conhece seus caprichos, e sabe que Ela é a única entre os Deuses que não aceita presentes. Não há como ir contra os desejos desta senhora tão velha quanto a Vida. Não existe na floresta inteira uma árvore que o cerne do seu tronco não se desmanche como pólen ante seu abraço. O caçador sabe que os mortos não mordem, mas não luta contra Ela, compreende que seu momento de abraçá-la independe dele. Nascemos de um só modo, de muitos morremos, apesar de uma só noite nos esperar a todos.
A total incerteza sobre a hora de sua morte prende o caçador ao Presente. Ele não tem tempo para se agarrar em nada. Família, trabalho ou rotina..., Essa convicção da presença muda de Yama ao seu lado tempera o sabor do momento vivido pelo caçador. Ele saboreia tudo e todas as emoções que o instante lhe oferece. É a certeza da morte que sustenta o poder de decisão de um caçador. Quando nos consideramos imortais, achamos que nossos erros podem ser desfeitos depois. Mas num mundo onde Yama é uma caçadora que está sempre por perto, não há tempo para remorsos ou dúvidas para o caçador. Só há tempo para decisões. Ele sabe que somente o seu julgamento correto mantém vivo nesta absurda realidade, evitando assim que a morte o dissolva. O caçador tem que ser poderoso de saída para poder suportar os rigores desta vida. Longe de ser uma vítima ou considerar Yama sua inimiga, o caçador reconhece que, enquanto ela não desejar beijá-lo, todo o homem é imortal.
A Vontade e a Paciência são duas qualidades imprescindíveis para a construção de um caçador. Somente a Vontade move o processo inicial do conhecimento. Ela é nosso elo de ligação com o mundo. A Vontade é a ferramenta que o caçador utiliza para reverter quadros desfavoráveis. Mesmo que a situação esteja sinistra e todos estiverem dizendo NÃO, o caçador imbuído de Vontade prende até vento em sua rede. Quando um homem resolve fazer alguma coisa, tem que ir até o fim. Tem que assumir a responsabilidade daquilo que faz, e depois prosseguir com seus atos sem vacilação ou arrependimentos. Uma onça pode chegar ao lado de um caçador e cheirar o seu rosto, mas, se ele permanecer imóvel e inabalável, a onça vai embora.
Pior do que a fome é a audácia da barriga cheia. A ignorância produz atrevimento. A Paciência carrega a reflexão, local onde brota a sabedoria, dádiva que o Tempo concede aos mortais. A reflexão constrói artimanhas e armadilhas. A Paciência permite ao caçador observar a caça e alertar o corpo para o momento exato de executar o bote. A Paciência nos demonstra como levar uma vida de um modo mais estratégico, porque somente ela reflete uma ampla visão da situação.
Um caçador deixa muito pouca coisa ao acaso, ele tem que gastar tempo observando onde sua presa se alimenta e faz seu ninho, para saber onde localizar sua armadilha. Ele confia na sua estratégia, sabe que atrairá a caça várias vezes na sua armadilha de modo que não se preocupa. A Paciência logo nos dá clareza para perceber que o universo não tem preferências e que todas as coisas são iguais e sendo iguais nenhuma é melhor ou pior do que a outra, assim todas as coisas são sem importância. Quão estranho e lógico são as leis que regem o universo, ele não se explica só complica, então, quanto mais falamos do Universo, menos o compreendemos. Melhor deixar nossa pretensão de lado, deixar de tentar entendê-lo e percebê-lo em silêncio. Um caçador sabe de muita coisa. È uma pessoa que vê o mundo de diversas maneiras. É preciso estar em perfeito equilíbrio com o ambiente que o cerca, porque senão a caçada se torna uma tarefa sem sentido.
Só sobreviveremos num mundo onde só existam caça e caçador, se assumirmos a postura de um caçador. O destino da caça é morrer enforcada pela sua rotina. A arte do caçador é ser inabalável e leve. Ser leve significa que ele toca moderadamente o mundo que o cerca. Usa o seu mundo com respeito e ternura. Não está faminto, nem desesperado, que pensa que nunca mais vai comer na vida e então chupa todos os frutos da árvore. O caçador chupa alguns cajus, não a árvore inteira, toca o mundo de leve, fica o tempo que precisa e depois passa adiante rapidamente, quase sem deixar marcas. O caçador é livre para fazer da ocasião a alma de todas as suas ações. Solto de posses e programações prévias, ele circula leve como a brisa sobre as amarras do cotidiano que deixam a caça imobilizada no Presente e com o Futuro marcado.
Enquanto a caça se mantiver resignada, escolhendo sempre o mesmo caminho para beber água e o caçador tiver a alma aberta para conhecer novos atalhos aprendidos com a reflexão que brota da Paciência e com seus atos embriagados de Vontade; nascerão e morrerão constelações de estrelas, gerações de Eternidades passarão e a luta, entre caça e caçador, permanecerá incessantemente desigual.
Perfeito léo, parabéns amigo,vc passa muita sabedoria em seus contos, me renova sempre, e chega na hora que preciso. estou aí também...por vezes caça...e outras caçador... bjinn de luz!!!
ResponderExcluirIsso tudo é de Castaneda.
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